surdoQuando leu o tema da Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no domingo, Bernardo Manfredi, de 20 anos, imaginou que a única dificuldade seria escrever apenas 30 linhas. Diagnosticado com surdez severa, sempre estudou em escolas regulares, sofreu bullying e teve até matrícula rejeitada, mas também ganhou bolsa de estudos pelo bom desempenho. Apesar da proximidade com o tema, o candidato, que também sofre com disgrafia profunda (dificuldade na escrita) e transtorno psicomotor em mãos e braços, só recebeu o auxílio de um transcritor nos 30 minutos finais da prova.

A Redação deste ano teve como tema os desafios para a formação de surdos no Brasil. A proposta, que segue a tendência da prova de fazer discussões sociais, surpreendeu os participantes e foi considerada desafiadora por especialistas. Foi a terceira vez que Manfredi prestou o Enem. No ano passado, ele foi um dos 77 candidatos que tirou nota máxima (mil) na Redação.

Este ano, como nos outros, solicitou na inscrição o apoio de um intérprete de leitura labial e um transcritor para preencher o cartão de resposta e escrever a redação. Logo que chegou à sala de prova, foi informado de que não teria o transcritor. “Disseram que eu não havia solicitado esse apoio, mas depois avisaram que o Ministério da Educação autorizou que chamassem alguém para me ajudar. O problema é que demorou muito.”